quarta-feira, 26 de novembro de 2014


Atualizado em 26/11/2014 às 00:18

Pílulas de Língua Portuguesa 29

Plural de nomes próprios de pessoas (antropônimos ou personativos)

Por Jairo Luis Brod

Que vale mais? Segurar um carro, uma casa, uma fazenda ou segurar um nome? Sabe o que é segurar um bom nome? É um seguro diferente, pois é você mesmo que o segura... todos os dias, com valores não monetários. Dilapidou-o, malbaratou-o, perdeu-o, pleibói? Lamento, pois dificilmente poderá reavê-lo. A consequência? As piores possíveis, a começar pela impossibilidade de recuperação de qualquer outro bem, incluídos os três acima.
(Dostoievski, Shakespeare, Arnaldo Jabor, Clarice Lispector, Luiz Fernando Veríssimo e outros)

Alceu Valença avalizou certa vez que "se o Gonzagão é o Pelé da música, Jackson do Pandeiro é o Garrincha". Descrição perfeita para o Rei do Baião e para o Rei do Ritmo – este tocava e cantava com um suingue magnetizante baião, samba, marchinhas, rojão, xaxado e emboladas, como esta:

Como Tem Zé Na Paraíba
Vige como tem Zé
Zé de baixo, Zé de riba
Tesconjuro com tanto Zé
Como tem Zé lá na Paraíba.

Um Zé puxa o outro Zé. Em muitas cidades do interior do Brasil, além dos alto-falantes que ainda anunciam de venda de cuscuz a notícias de falecimento –"Anunciamos consternados o passamento de Dona Lazarinha" -, existe também o costume de diferenciar os zés, as marias e os joões pelo acréscimo de um segundo nome:
- Zé das Couves: o que planta ou vende o vegetal;
Zé da Zefa: o que é casado com a Dona Encrenca chamada Josefa;
Zé de Ninguém: o Zé solteirão.
Feita a sala aos zés, entremos de sola (ou de borzeguim, como se diz no Sul Maravilha) na cozinha do assunto de hoje. Antes disso, convém saber que a taxonomia é a ciência que lida com a classificação de todos os seres. Hã?! O que tem a ver os zés com essa tal de taxonomia? Muita calma nessa hora! Porque como eu estava dizendo, a taxonomia nos revela que quem estuda os zés ou Zés, as marias/Marias, o meu nome e o de vocês que me leem é a Antroponímia - estudo dos antropônimos, ou seja, os nomes próprios de pessoas, por:
- prenome (nome de batismo): João, José, Joana, Josefa, etc
sobrenome: Antunes, Bragança, Rodrigues, Lima, etc
apelido: Zé, Tonho, Betinha, Maroca, etc.
Quando o assunto aqui desemboca, uma das maiores dificuldades é a formação do plural e a letra inicial, se minúscula ou maiúscula. Como regra geral, tem-se que eles se flexionam em número tal quais os substantivos comuns. Até aí, quase nenhuma dificuldade, que só começa a partir da pluralização dos nomes compostos. Há casos e casos. Para todos esses, leva-se em consideração o princípio latino de que, na fundada divergência entre os estudiosos da Língua, há liberdade de emprego dos termos (in dubiis, libertas). Dessa forma, teremos, então, o que se segue, devendo, preferencialmente, a primeira letra ser grafada em tipo minúsculo, cabendo, contudo, o emprego do maiúsculo, conforme veremos mais detidamente ao final deste magote de nomes:
(Continua na próxima semana. Ouvi daí um "graças a Deus", hehe).

segunda-feira, 24 de novembro de 2014

Simbiose, sim! Celular!












Na Biologia, a palavra “simbiose” expressa a autêntica relação “ganha-ganha”. Dois seres vivendo em perfeita harmonia. Como deveriam ser os casamentos... Na vida real, relações simbióticas formam uma rede de conexões frágeis e, na maioria das vezes, sufocantes. Não importa quem é o parasita, e quem é o hospedeiro. Um acaba tornando-se escravo do outro.
Migrando esse conceito para as novas AÇÕES, é como se tudo que fizéssemos hoje fosse... simbiótico! Cada vez mais, temos que nos dedicar integralmente para algumas tarefas específicas, sem levar  em conta que, cada vez mais, elas são simultâneas!!!!Ou seja, temos muitas coisas habitando num espaço só... e este espaço é o espaço do tempo! No final, não nos dedicamos a nada.
De volta ao mundo humano, relações simbióticas nos levam a uma ideia parasitária de vida, algo que intrinsicamente pode soar como absorvente demais, sufocante o bastante e que se desliza e vai.
Para mim, exemplo disso é a tenra maternidade. A tal ponto que, para o bebê, ele e a mãe são um só! Na ideia idealizada do casamento,  visto como algo inquebrantável, a simbiose é o retrato perfeito. Fica bem só na foto.
Com a mecanização do homem, ou melhor, das atividades humanas, os meios de produção passaram a ter uma importância simbiótica na vida das pessoas! A revolução tecnológica levou essa comunhão homo-mecânica ao extremo, a ponto de não sabermos mais se estamos casados com uma pessoa ou com o nosso telefone celular, este sim, o verdadeiro amor da nossa vida!
O celular é a cachaça, o cigarro do cotidiano do “homem-modernus”. Os fumantes hoje riem da nossa cara: somos todos “fumantes” de celulares dando uma tragadinha durante a madrugada, para alimentar o nosso vício pelo What’s App. McLuhan já disse: "o meio é a mensagem". E alguém duvida de que os meios de comunicação são extensão de nós mesmos?
Por que estou dizendo isso tudo? porque, sim, o celular pode levar à morte lenta e cruel, assim como o cigarro! É um verdadeiro veneno para o concursando! Celular e concurso público não são grandes inimigos! O mesmo não se pode dizer do computador, mas o celular é muito, muito mais compulsivo! Seria o crack das novíssimas e mais velhinhas gerações!
Um dos meus alunos, durante as aulas, não tirava o olho da tela do celular! Eu, intrigada, me compadecia da sua distração. Publicitário discreto e já servidor da Câmara dos Deputados, ficou entre os 15 primeiros colocados na prova objetiva do Concurso de Consultor Legislativo na Área de Comunicação e Telecomunicações.  Seu celular era o espelho da aula. Focado e silencioso era o meu aluno.
Algumas dicas podem salvar você da celular-mania, doença incurável que acomete todos os seres que tenham mais de um amigo na face da Terra. Antes de ser obsessivo pelos gadgets ou apps do momento, seja obstinado pela ideia de passar num concurso público. Depois tire um sabático só para namorar o seu celular!
Aí vão as dicas:
1)   não dispense as formas mais clássicas de estudo, como livros, em que se pode fazer anotações. Eles são insubstituíveis;
2)   coloque disciplina nos acessos a telefones e tempo “off” e tempo “on”. Corte o mal pela raiz. Ou seja, em alguns momentos, desligue mesmo o celular!
3)  o telefone virou a geladeira dos dias modernos. Talvez não a substitua, mas é sua mais feroz competidora. Resista à tentação de ir recorrer a ele a todo momento;
4)   nas redes sociais, passe uma linha imaginária na sua página de relacionamentos, dividindo-a em duas: a dos inteligentes e não concurseiros, e a dos inteligentes e concurseiros. Faça o facebook dos concursos. Leia artigos interessantes, mantenha-se minimamente atualizado. Não se meta em polêmicas! A sua briga agora é em outro ringue! Os bobos, descarta...
5)   o besteirol, deixe para o momento em que o nível de estresse/cansaço estiver no limite máximo: somente no final do dia. Ou melhor, obrigatoriamente, no final do dia! Hora de relaxar!
6)   reduza o pacote de voz da sua operadora e fale menos! É por pouco tempo! Você vai desistir de ligar ao saber quanto paga por uma ligação fora da franquia! Melhor: mude de operadora! Não tenha nenhum amigo ou parente com a mesma operadora que você! Fazer qualquer chamada vai se tornar proibitivo pelo preço!
7)   medite por 10 minutos todos os dias. Isso vai acalmar a mente e te colocar em contato com você mesmo. Foco! Seja um solitário bem acompanhado. Seja seu melhor amigo e seu melhor treinador. Uma reflexão vale muito mais do que mil conselhos! O celular pode esperar! O concurso, nunca!

sexta-feira, 21 de novembro de 2014

A vida requer gratidão!



Vejam as notícias:

1) jovem é estuprada e morta;
2) pai procura pelo filho há 29 anos;
3) famílias caminham 10 horas para fugir da violência no Iraque;
4) jovens cristãos são degolados no Irã;
5) candidatos fazem aeroportos particulares.

O mundo desaba. Mas você acorda no meio da noite e começa a pensar no mal que te fizeram. Logo vem a cabeça aquela situação que te desagradou. Uma ofensa. Quase sempre uma frase errada, inútil, desnecessária. Uma frase daninha. E aquilo é o centro do seu mundo. Um mundo onde coisas muito piores, realmente ruins estão acontecendo. Então um sorriso começa a brotar para que você realmente pense no mundo como ele é diga: obrigada. Outro sentimento, o de gratidão, começa a aflorar e tudo o mais perde a importância. O eixo se volta para o universo, e não para você, e você percebe que tudo que fizeram, tudo que disseram, tudo que pensaram não tem a menor importância. Nada disso tirou a sua razão, a sua saúde e a sua capacidade de fazer o bem.
Pense sempre no lado bom das coisas. Pense como poderia ser pior. Pense que tudo que acontece é parte da vida, é o preço que se paga por estar aqui. Não importa o que aconteça com você, acolha de uma maneira generosa e grata, gratidão, especialmente, por não sentir, em seus corpo, uma dor insuportável por razões irremediáveis. Crie a virtude do pensamento baseado no bem-estar e na gratidão. Se eu passei por isso, é porque tinha que ser. E que toda energia gasta com pensamentos inúteis de não aceitação eu lance para Deus na forma de: - abençoe os que estão sofrendo, precisando ou morrendo. Esses sim têm razões para questionar, para voltar-se para si mesmo de maneira egoísta e se condoerem de sua própria condição. Mesmo na miséria, qualquer que seja ela, ou seja, na ausência, você ainda pode ter a sua crença de que essa vida merece ser vivida com gratidão a Deus e respeito ao outro. Com calma e compreensão dos acontecimentos. Com aceitação dos fatos e uma mensagem de confiança e acolhimento para com os que chegaram até você. A dor é inevitável, mas você pode amenizá-la com remédios. O sofrimento é inevitável, mas você pode neutralizá-lo com bons pensamentos, uma boa emoção, e uma conformidade plena da sua situação, com a ideia de que ver a tragédia do outro pode aliviar o seu olhar rancoroso, e afastar todos os sentimentos de injustiça em você. Eles são apenas sentimentos, e parte da não aceitação da vida como ela se apresenta. Se você apenas disser: “eu aceito”, a mente se acalma e o sofrimento cessa. E você ainda pode orar pelos que realmente têm motivos para sofrer. Medite. Creia. Transforme. A si mesmo.
"A meditação não é para nos ajudar a evitar problemas ou fugir das dificuldades. A meditação foi criada para permitir e ter lugar a cicatrização positiva. Meditar é aprender a parar - parar de ser levado por nossos arrependimentos sobre o passado, a nossa raiva ou desespero no presente, ou as nossas preocupações sobre o futuro "

~ Thich Nhat Hanh.

quarta-feira, 19 de novembro de 2014

A lei de comunicação eletrônica subiu no telhado

Na tentativa de oferecer um parâmetro para a avaliação do discurso, redigi agora um modelo rápido para a análise de vocês. Não segui exatamente a proposta do tema, uma vez que senti necessidade de confrontar a possibilidade de alterar a abordagem, que talvez poderá ser dada por vocês, não pelo examinador, a depender do enunciado.


O exercício foi para demonstrar como um assunto pode ser defendido ou atacado com a mesma intensidade. Também carreguei na "estilística" e na "retórica", com a finalidade de chamar a atenção quanto às particularidades que distinguem bastante um discurso de uma dissertação. Esse discurso foi redigido sem direcionamento do orador. O objetivo foi exercitar um estilo particular de produção de texto.

Viver é preciso, discursar é preciso

O discurso abaixo foi escrito como exercício num dos cursos de redação que fiz para o concurso da Câmara dos Deputados. Consultor legislativo tem o dever de ofício de escrever bem, goste ou não. Com uma boa pesquisa, e uma certa disciplina, no final sempre dá certo. Mas discurso é mais do que receita de bolo. É coração. É o púlpito que fala. O discurso pulsa.

Viver é preciso, discursar é preciso

Na ocasião, enviei para os alunos a seguinte introdução: "na tentativa de oferecer um parâmetro para a avaliação do discurso, redigi agora um modelo rápido para a análise de vocês. Não segui exatamente a proposta do tema, uma vez que senti necessidade de confrontar a possibilidade de alterar a abordagem, que talvez poderá ser dada por vocês, não pelo examinador, a depender do enunciado.

segunda-feira, 17 de novembro de 2014

Inspire-se

Podemos dar vários nomes para isso, mas, no cardápio da vida, um resultado prescinde de qualquer comentário. No resultado final do concurso para a área XIV da Consultoria Legislativa da Câmara dos Deputados, que envolve Comunicação, Ciência e Tecnologia e Informática, os dois primeiros colocados são meus alunos.


Guilherme Pereira Pinheiro e Leandro Alves Carneiro serão os novos consultores da Área XIV. Serão meus colegas de trabalho. São motivo de alegria e orgulho para a área e para mim. É indescritível a emoção de, como professora, ter uma taxa de 66% de aprovação num concurso de alto nível e elevada especialização. Como eu disse, um resultado que prescinde de qualquer palavra.

Aprovados Área XIV - Consultor Legislativo Câmara dos Deputados

quarta-feira, 12 de novembro de 2014

Criatividade é sinônimo de...


http://oglobo.globo.com/opiniao/um-teste-para-doutora-14532200


Desde que o jornalismo entrou em crise, especialmente por causa dos tempos da internet, ficou difícil garimpar grandes nomes nesse mercado de muitas opiniões  e pouco fundamento. Jornalismo não tem nada a ver com prova escrita de cursinho, mas, realmente, o fundamento, em ambos os casos, é, com o perdão do trocadilho, fundamental. Embasar, explicar, justificar, apresentar argumentos. Ninguém quer saber a opinião de ninguém. Entender é o nome do negócio. Falar claro e pausado, ou, no caso da escrita, escrever de forma cristalina. Ou melhor, um bom texto tem que ser claro como as estrelas, como diz minha amiga Dad Squarisi, um ícone da Língua Portuguesa.
Dad, assim como Elio Gaspari, são papas do jornalismo brasileiro. Figuras de grande consistência, de muita reverência... cujo texto poderia ter sido escrito por... qualquer um de nós.
O texto linkado acima me inspirou a falar sobre  como os sinônimos, de novo, podem ser – com o perdão do trocadilho! – sinônimo de criatividade.
Elio Gaspari usa termos técnicos e palavras coloquiais para aproximar o leitor de um tema chato como responsabilidade fiscal. É uma farra, diz ele, ao comentar recente decisão do Congresso que pode ser ratificada pela Presidente Dilma Rousseff. Pode fazer isso numa redação? Sim, se você atribuir isso a uma autoridade, como a própria imprensa: “o termo utilizado pela imprensa para explicar essa decisão foi “farra”, e segue por aí.
Elio Gaspari usa a palavra “folga” como irmã gêmea da expressão “aumento do teto fiscal”; “gracinha” para dizer que o ato é injusto, e “década perdida” como sinal de que a “vaca pode ir para o brejo”.
“Contabilidade criativa” é outra forma criativa de dizer que a conta não está fechando. Gaspari vai tecendo ao longo do texto uma lista de termos que, no contexto, querem dizer todos a mesma coisa: não existe a menor chance de o leitor não ficar entediado.
A minha sugestão: circule as palavras chaves do texto, ex. “irresponsabilidade fiscal”, e anote quais são os  sinônimos genéricos usados por Gaspari para tornar o seu texto não apenas leve, mas atraente. O que nos faz atraentes é, justamente, a singularidade. Sim, Gaspari é único.
Um texto precisa ser singular, pois, assim, ganha uma imagem própria. Faz sentido por inteiro. Cria uma representação e convence, mesmo que não vire a mesa e não inverta a lógica da farra que muitas vez predomina na política brasileira. Pelo menos na redação, podemos ser mais responsáveis, mesmo sendo muito, muito criativos.

segunda-feira, 10 de novembro de 2014

Sobre garranchos e coisas pequenas


Nunca imaginei que um dia na minha vida frequentaria um curso de datilografia. Duvido que os blogeiros de hoje digitem tão rapidamente quanto eu, mas as horas no curso de taquigrafia de sobreloja eram realmente de cortar os pulsos. Reta final de concurso, duas etapas superadas – e vencidas -, e a sua classificação final dependia daquele chatíssima máquina de comer letras que logo se tornaria um dinossauro.
A preparação para um concurso pode ser mesmo inusitada, e nada disso parece divertido até que tudo acabe. Ou melhor, tudo acabe bem! Eu tenho duas teorias: ninguém fracassa em concurso público. Desiste. É diferente. A aprovação é apenas uma questão de tempo. E de jogo de cintura, é claro. Caminhe na beira da estrada que um dia você toma o trem certo.
Mas o tempo passa e algumas coisas nunca mudam. Datilografia não existe mais, mas o que dizer de digitação? Qual pode ser a diferença entre catar milhas ou disparar uma metralhadora? Sim, faz toda a diferença. Ser ágil, com a mente e com dedos, faz mesmo muita diferença no mercado de trabalho. O que muita gente duvida é que, para concurso, o mundo não é lá tão digital assim. E escrever, sim,  ainda pode ser uma arte. Nos países árabes, caligrafia é cultura e arte da maior grandeza. Os calígrafos são respeitados como grandes artistas da pintura e a escrita é uma ciência tão antiga quanto amada! Para nós, uma letra desenhada pode ser até sinal de frescura ou futilidade. Como os frufrus num vestido de boneca. Mas na hora prova, uma letra bem desenhada, uma escrita caligrafada é como os cílios negros da Elizabeth Taylor. Inconfundíveis. Para os concurseiros, é difícil dar importância para um treino de escrita ou a importância de se devolver uma prova bonita, além de bem feita. Mas, para mim, os garranchos da jornalista canhota me custaram algumas posições no concurso, e por não sorte, não o concurso inteiro. Reta final para a prova discursiva, pânico total, estresse máximo, e lá estava eu no meu curso de caligrafia, fazendo calos nas mãos. Era um ato tão desesperado quanto necessário. Jamais a minha redação apressada e caolha seduziria qualquer leitor mais ou menos convicto.
O cursinho de caligrafia me deu também as noções de limpeza e higiene de uma redação, e com o tempo vejo que a caligrafia ainda não morreu para mim. Ainda divido o caderno com meu filho de onze anos, aceitando inclusive as comparações (e zoações...)
Escrevo frases tolas, porém elegantes, e tento fazer dessa regressão estudantil um momento de despojada loucura: “conferir o amor da montanha e a saudade do vento”.... “qualquer que seja o estágio, nunca se esqueça de demitir-se primeiro” ....”a delícia de fazer da saudade a sua outra metade...”
De rimas pobres e frases sem nexo, vou desenhando o “j”,  moldando o “q”, enganando o “b”, um dos mais difíceis de fazer na escrita cursiva.
Duas páginas por dia e minha missão está cumprida. Os progressos chegam a “mãos” vistas. Reafirmei meu voto de louvor à caligrafia quando recebi redações de alunos na fase dos recursos. Me encantei pela letra, morada de um belo texto, estruturado, dizia logo a que veio: beleza por fora e por dentro. Impecável o texto da candidata imbatível. Era a nota de redação mais alta do concurso.  Outros exemplares eram mais camaleões: a aparência refletia uma certa desestrutura interna: faltava a linearidade, a limpeza, a objetividade e a elegância do traje impecável de um bom redator. Nas curvas das letras, se perdiam um pouco as ideias e ausentavam-se as construções ímpares, aquelas que nós deixam a sorrir.
Enfim, cheguei à conclusão de que sim, uma letra bem feita, sim, é documento. E quem não quiser dar carteirada, pode ficar também sem a sua carteirinha de servidor público, e ainda por cima sem qualquer chance de ganhar a vida escrevendo na face dourada dos convites de casamento.  

domingo, 9 de novembro de 2014

Pílulas de Língua Portuguesa 26



Atualizado em 04/11/2014 às 14:41


Vivam os Latinismos (Alguns)! 1

Por Jairo Luis Brod

"Est modus in rebus." (Existe medida, um meio-termo para tudo; nem oito nem oitenta).

                                 Horácio, poeta romano da Antiguidade

Latinismos são palavras, locuções, expressões ou construções gramaticais próprias do Latim. Oriundo da região do Lácio, em Roma, ele deu origem às chamadas línguas românicas – ou neolatinas -; entre elas, o Italiano, o Francês, o Espanhol e o Português. Lembram-se, heroicos e escassos acompanhantes desta coluna, dos versos do poema "Língua Portuguesa", de Olavo Bilac?

"Última flor do Lácio, inculta e bela,

és, a um tempo, esplendor e sepultura;

Ouro nativo, que na ganga impura

A bruta mina entre os cascalhos vela... (...)"



Neste poema, O Príncipe dos Poetas faz referência à história da Língua Portuguesa. Pobre Latim, depois de tanto contribuir para a formação cultural de diversos povos, foi relegado ao título de língua morta, ou seja, uma língua que não mais possui falantes nativos, sendo apenas empregada pela Igreja Católica para fins rituais e burocráticos. Mas até ali,  no derradeiro e sacrossanto recesso do Trono de São Pedro, ele vem sofrendo sacrílegos boicotes, hehe. No início de outubro último, o Papa Francisco determinou que a veneranda língua cedesse espaço ao Italiano como idioma oficial da assembleia de bispos (sínodo) reunida na Santa Sé para discutir temas relacionados ao catolicismo.

Ainda que se contem nos dedos as pessoas que falem e escrevam no dialeto dos césares, ele permanecerá por muitos séculos nos diversos rebentos que gerou. Não tem aquela história de que os pais sobrevivem em seus filhos? Pois é, o DNA do Latim vem se perpetuando em sua prole. Não se pode, contudo, dizer que o tronco latino impregnou sua dezena de ramos com todos os caracteres genéticos que o distinguia.

Por exemplo, o Latim não conseguiu nos embeber de seu considerável poder de síntese. Somos povos latinos, que, de forma paradoxal, falamos pelos cotovelos. Querem um exemplo eloquente dessa disparidade entre a síntese da língua mater e o pendor analítico de suas descendentes? Peguemos o vocábulo vixit! (vícsit), um eufemismo usado pelos antigos romanos para comunicar que alguém tinha morrido. Não é glorioso anunciar que alguém "viveu!" em vez de "morreu"? Tal glamour, no entanto,  não se expandiu para as terras dalém-Lácio. Como fazemos semelhante anúncio por aqui? "Olha, você sabe que sua mãe não andava bem de saúde..."; ou "Fulano foi comer capim pela raiz"; ou, ainda, "O gato subiu no telhado...", rsss.

Apesar de estar cinscunscrito às encíclicas e a outros documentos legais do Vaticano, ainda há quem insista em rechear seus escritos e falas com latinismos indecifráveis. Na crônica anterior, comentei que a Associação dos Magistrados Brasileiros – AMB está em uma cruzada permanente pela simplificação da linguagem entre os operadores do Direito. Além do juridiquês, a artilharia da entidade se volta contra os latinismos, especialmente os que não se incorporaram ao nosso idioma, seja com a vestimenta original, seja pela conformação à nossa Língua. Vejam alguns exemplos execrados pela AMB:

- Ab hoc et ab hac: disto e daquilo. Discorrer alguém sobre algo que não entende.

- Aberratio delicti: desvio do delito. Erro por parte do criminoso quanto à pessoa da vítima.

- Animus abutendi: intenção de abusar.

- Bis dat qui cito dat: dá duas vezes quem dá prontamente.

- Bona fide: de boa fé.

- Ex adverso: do lado contrário. Refere-se ao advogado da parte contrária.

- In anima vili: em alma vil, irracional. Experiência científica feita em animais.

- Tabula rasa: 1. Suprimir inteiramente (o que existe), para substituí-lo por coisas novas. 2. Não fazer caso de; não levar em conta; ignorar, desprezar

É importante realçar que não se está demonizando essas expressões. O seu uso depende dos interlocutores com os quais se está falando. No meio jurídico ou entre outros profissionais que dominem o linguajar, esse tipo de comunicação ainda é bem-vinda. Tais termos devem ser evitados, é claro, quando o público-alvo for uma audiência que não tenha familiaridade com a língua de Cícero.

Alguns latinismos (muitos já aportuguesados), porém, não só são recomendáveis por serem de amplo conhecimento como muitas vezes constituem a única forma de se nomear alguns seres e coisas:



In loco = no local

A priori = a princípio

A posteriori = depois

Idem = o mesmo, igual

Mea culpa = minha culpa

Carpe diem = aproveita o dia

Corpus Christi = corpo de Cristo

Ad hoc = para isso, para tal fim

Lato sensu = em sentido amplo

Modus operandi = modo de agir

Causa mortis = a causa da morte

Et coetera (etc) = e outras coisas

Honoris causa = a título de honra

Data venia = com o devido respeito

Ad referendum = para ser referendado

Per capita = por cabeça; para cada um

Hábitat = lugar de vida de um organismo

Grosso modo = de modo grosseiro, por alto

Déficit = excesso de despesas sobre receitas

Sine qua non = sem a qual não; indispensável

Mutatis mutandis = mudando o que deve ser mudado

Superávit = diferença, a mais, entre receitas e despesas

Ipsis litteris = textualmente; com todas as letras ou palavras

Aliás = expressão utilizada para retificar algo; de outro modo

Habeas corpus = garantia constitucional de liberdade de locomoção

Vade-mécum = designação comum a livros de conteúdo prático e formato cômodo

Sui generis = que não apresenta nenhuma analogia com outra (pessoa ou coisa); peculiar

Curriculum vitae = conjunto de informações escolares e profissionais concernentes a um indivíduo

terça-feira, 4 de novembro de 2014

Pílulas de Língua Portuguesa 25

Notícias da Casa

Atualizado em 30/10/2014 às 15:27

Pílulas de Língua Portuguesa 25

Abaixo o Juridiquês na Esfera Pública 
Por Jairo Luis Brod
"Por que nossa linguagem comum, tão cômoda e tão fácil, torna-se obscura e ininteligível quando empregada nos contratos e nos testamentos?" 
                                  Montaigne
O jargão ou a gíria profissional é o cacoete verbal que caracteriza a comunicação entre as pessoas que exercem idênticas atividades. Ele age, muitas vezes, como um tique nervoso, pois as palavras e expressões desse idioma singular brotam de forma involuntária das bocas e das teclas de seus usuários.
Até a metade do Século XX, existia praticamente apenas um linguajar que extrapolava do âmbito profissional e acadêmico para a esfera pública: a linguagem jurídica. Com o tempo, seu largo emprego, recheado de termos impronunciáveis, acabou por gerar o neologismo juridiquês, compreensível apenas para iniciados do Direito.
Avancemos, com um prévio esclarecimento, porém, antes que algum operador do direito sinta-se pessoalmente atingido e ingresse em juízo contra mim com uma exordial acusatória ou uma peça increpatória: denúncia, rsss.
Não sou contra os advogados, juízes e promotores usarem o dialeto que os individualiza há séculos, desde que o façam entre si e no fórum onde militam. Ao se comunicarem com seus clientes ou réus, bem como com o grande público, advogo que usem linguagem que seja entendida por todos.
Falo (mal) aqui do uso do juridiquês na esfera pública por ser o mais entranhado, de longe, de nossas gírias profissionais. A iniciativa mais consistente para tornar mais clara a comunicação dos operadores do direito com o público, partiu de fogo amigo.  A Associação dos Magistrados Brasileiros (AMB) lançou em 2005 a cartilha "Abaixo o juridiquês", que se transformou em campanha permanente e conta com o apoio de todas as associações de classes dos demais profissionais que atuam na área.
Segundo se lê na introdução daquele manual,  "A linguagem jurídica acaba afastando a sociedade do Poder Judiciário. Os principais alvos da campanha serão os estudantes de direito. A Associação promoverá palestras em faculdades para convencer os alunos de que a linguagem técnica e formal é importante — desde que não ultrapasse os limites do entendimento possível à maioria da sociedade".
Em muitos casos, a linguagem rebuscada nada acrescenta ao dia a dia do Judiciário. Serve mais para o ego do autor, que visa demonstrar erudição, do que ao seu objetivo maior: fazer Justiça e fazer-se entendido. O uso da linguagem rebuscada não deixa de ser também uma maneira de demonstração de poder e de manutenção do monopólio do conhecimento.
Para não dizerem que não meti o bedelho e o malho em outras categorias profissionais, usar linguagem cifrada não é privilégio dos que manuseiam as leis. Existem dezenas de outros jargões que particularizam a comunicação entre indivíduos. Eu poderia falar, por exemplo, do economês (viés de alta, viés de baixa, commodities, superávit primário); mediquês (pressão sistólica, posologia, decúbito dorsal, drágeas); pedagoguês (abordagem contextual, educação piagetiana, inter e multidisciplinaridade, processo ensino-aprendizagem); jornalistês (lead, retranca, deadline, frila); politiquês (visitar as bases, orçamento plurianual, pinga-fogo, agenda proativa, media training); legislativês (primeiro turno, kit-obstrução, grande expediente, legislatura, convite/convocação de ministro).
Mas, retomemos o juridiquês. Depois da morosidade dos processos, o que mais incomoda a população é a linguagem usada pelos operadores do direito. Muitas vezes, depois de uma audiência, as pessoas cercam o advogado com olhar de interrogação, perguntando se ganharam ou perderam a causa, hehe.
Que diria um indefeso cidadão ao ouvir estas pérolas:  "O alcândor Conselho Especial de Justiça, na sua postura irrepreensível, foi correto e acendrado  no seu decisório. É certo que o Ministério Público tem o seu lambel largo no exercício do poder de denunciar. Mas nenhum lambel o levaria a pouso cinéreo se houvesse acolitado o pronunciamento absolutório dos nobres alvazires". Quem conseguir traduzir o texto acima ganho um diploma de "juridiquês", kkk.
A propósito, antes que me perguntem, segue abaixo um guia de sobrevivência no cipoal de termos jurídicos com os quais eventualmente poderemos nos deparar um dia:
.cártula chéquica: folha de talão de cheque;
.com espeque no artigo ou com supedâneo no artigo: com base no artigo;
.digesto obreiro: Consolidação das Leis do Trabalho;
.ergástulo público: cadeia;
.remédio heroico: mandado de segurança;
.peça incoativa, petição de introito, peça exordial ou peça vestibular: petição inicial;
.pretório Excelso, Excelso Sodalício ou Egrégio Pretório Supremo: Supremo Tribunal Federal;
.cônjuge sobrevivente ou consorte supérstite: viúvo;
.alvazir: juiz de primeira instância;
.testigo: testemunha;
.cônjuge virago: a mulher do varão, isto é, homem;
.caderno indiciário: inquérito policial.
Uma certa dose de linguagem técnica é indispensável. O que se deve banir é o excesso. Tudo aquilo que torna o texto incompreensível pode ser substituído por outra palavra mais objetiva. Quando um advogado pergunta "Você já perlustrou os autos?", ele está utilizando uma linguagem arcaica. Seria mais adequado se ele fizesse a pergunta usando a expressão "Você já leu o processo?"
Claro que nem tanto ao mar, nem tanto à terra. A linguagem forense deve guardar uma certa solenidade e observar cânones gramaticais mínimos, a fim de evitar-se o extremo oposto da simplificação, ou seja, a criação de um novo jargão. Como no exemplo com que faço a peroração (finalização) da presente crônica:
Ô da toga!
Mano 13, fanqueiro, tô pedindo um barato louco porque tô separando da distinta.
Sô sangue bom.
Sô sinistro, mas a chapa tá quente.
A traíra se meteu com uns talarico. Tô na fita, num dá mais.
A coisa tá irada, tá bombando e eu quero que teja tudo dominado.
E aí lixo? Se tocou?
Fecha cum nóis.
Brasília, oje.

Assinado: Mano Veio

sábado, 1 de novembro de 2014

Quando as palavras não dizem tudo!






Assim como a visão é a nossa principal porta de entrada de informação, a palavra é a nossa maior forma de comunicação! Subestimamos o valor da palavra, assim como também não damos a devida atenção para os outros sentidos, como tato e audição. Somos serem essencialmente visuais! E enormemente sociais! Mas não cuidamos muito bem da nossa ferramenta de trabalho: a palavra! Com que frequência alguém nos diz: para?! E não paramos! Continuamos com um gesto irritante, uma fala incorreta, ou uma provocação qualquer! A palavra é tão poderosa que controla até a nós mesmos! Ela nos atrai tanto quanto nos trai. A todos. Com frequência, deslizamos nas palavras como quem escorrega numa casca de banana. Os resultados são imprevisíveis, ou seja, os piores possíveis. Por isso o texto escrito é tão importante. Ele nos oferece a pausa da racionalidade, o instante da lucidez! Ele nos dá a segunda chance de não dizer simplesmente o que vem à cabeça, sem medir as consequências.
Numa redação, cada palavra pode ser medida, mensurada, colocada ali de maneira milimétrica. Teste as palavras como quem monta um quebra-cabeça. Tira e põe. Leia em voz alta. Busque os dicionários mentais que você armazena, especialmente o de sinônimos e antônimos.
O texto escrito tem uma grande vantagem: ele não traz ali a carga emocional de uma comunicação não-verbal. O olhar, os gestos, os tiques, o texto escrito não necessariamente denuncia a nossa verdadeira essência e o exato estado emocional que você está experimentando.
Para resvalar um pouco para a política e seguir as tendências do momento, talvez o candidato tucano Aécio Neves tivesse melhor resultado se tudo que tivesse prometido estivesse apenas escrito. Ou que usasse uma máscara para evitar uma comunicação verbal bastante ambígua.
Um especialista em “mentira” traduziu por fotos o sentimento que diversas pessoas que podem explicar o esvaziamento de votos do candidato da oposição, depois de um bolão de ensaio que apontava para uma vitória. Ele não “parecia” confiável.
Tão interessante quanto o artigo do consultor Sérgio Senna são os comentários dos leitores, que denunciam que a expressão facial pode derrubar as palavras, quando elas não estão alinhadas entre si.
Ou seja, não basta um bom texto. Tem que ser convincente também.
Se uma imagem diz mais do que mil palavras, como aplicar esse ditado para um redação? Será que alma da redação, e a energia que dela emana, também denuncia com que é que estamos falando?! O examinador certamente dirá: “bingo”.
http://www.revistaforum.com.br/blog/2014/10/para-psicologo-expressoes-faciais-de-aecio-neves-em-debate-da-band