http://oglobo.globo.com/opiniao/um-teste-para-doutora-14532200
Desde
que o jornalismo entrou em crise, especialmente por causa dos tempos da
internet, ficou difícil garimpar grandes nomes nesse mercado de muitas
opiniões e pouco fundamento. Jornalismo
não tem nada a ver com prova escrita de cursinho, mas, realmente, o fundamento,
em ambos os casos, é, com o perdão do trocadilho, fundamental. Embasar,
explicar, justificar, apresentar argumentos. Ninguém quer saber a opinião de
ninguém. Entender é o nome do negócio. Falar claro e pausado, ou, no caso da
escrita, escrever de forma cristalina. Ou melhor, um bom texto tem que ser
claro como as estrelas, como diz minha amiga Dad Squarisi, um ícone da Língua
Portuguesa.
Dad,
assim como Elio Gaspari, são papas do jornalismo brasileiro. Figuras de grande
consistência, de muita reverência... cujo texto poderia ter sido escrito por...
qualquer um de nós.
O texto linkado acima me inspirou a falar sobre como
os sinônimos, de novo, podem ser – com o perdão do trocadilho! – sinônimo de
criatividade.
Elio
Gaspari usa termos técnicos e palavras coloquiais para aproximar o leitor de um
tema chato como responsabilidade fiscal. É uma farra, diz ele, ao comentar recente
decisão do Congresso que pode ser ratificada pela Presidente Dilma Rousseff.
Pode fazer isso numa redação? Sim, se você atribuir isso a uma autoridade, como
a própria imprensa: “o termo utilizado pela imprensa para explicar essa decisão
foi “farra”, e segue por aí.
Elio
Gaspari usa a palavra “folga” como irmã gêmea da expressão “aumento do teto
fiscal”; “gracinha” para dizer que o ato é injusto, e “década perdida” como
sinal de que a “vaca pode ir para o brejo”.
“Contabilidade
criativa” é outra forma criativa de dizer que a conta não está fechando.
Gaspari vai tecendo ao longo do texto uma lista de termos que, no contexto,
querem dizer todos a mesma coisa: não existe a menor chance de o leitor não
ficar entediado.
A
minha sugestão: circule as palavras chaves do texto, ex. “irresponsabilidade
fiscal”, e anote quais são os sinônimos genéricos
usados por Gaspari para tornar o seu texto não apenas leve, mas atraente. O que
nos faz atraentes é, justamente, a singularidade. Sim, Gaspari é único.
Um
texto precisa ser singular, pois, assim, ganha uma imagem própria. Faz sentido
por inteiro. Cria uma representação e convence, mesmo que não vire a mesa e não
inverta a lógica da farra que muitas vez predomina na política brasileira. Pelo
menos na redação, podemos ser mais responsáveis, mesmo sendo muito, muito
criativos.
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