domingo, 26 de abril de 2015

A lógica e o papel higiênico - há certo ou errado em concurso público?



Falar de assuntos sanitários não tem nada de elegante, mas confesso que quando li a manchete “teoria do papel higiênico”, não resisti à uma curiosidade meio adolescente, meio estudantil, ou simplesmente boba mesmo. Como o papel higiênico pode fazer aquela limpeza no meu raciocínio, embora eu esperasse mesmo é que ele fizesse um limpa geral, bem suave, na minha vida, tirando todas as memórias que “não cheiram bem”, foi a pergunta que me fiz.
Não imaginava que, por trás do papel higiênico, houvesse uma discussão nada básica sobre certo ou errado! Apenas estilos de vida, hábitos, comportamentos, padrões culturais, é mais ou menos isso que te define e te faz ser quem você é: não há necessariamente certo ou errado. É isso que diz a “lógica do papel higiênico”. Eu sempre apostei na cascata que cai por cima, ou seja, o papel tem que ficar com a “língua para fora”. Fiquei meio desmoralizada com a revelação de que a resposta certa é: depende!
Sim, depende se você puxa de um lado ou de outro, suave ou com mais vigor, se você usa o braço direito ou esquerdo... depende até da qualidade do picote do papel higiênico. Isso me lembra muito a resposta clássica para a pergunta clássica: como eu devo estudar para um concurso público? Depende. Não existe uma regra infalível que soe como #osinvencíveis. Tudo isso faz parte de um autoconhecimento que inclui também: como eu uso o papel higiênico no toalete? 


Eu adoro as respostas “não existe nem certo nem errado”, embora elas sejam muito frustrantes, porque te lançam nos braços do seu livre arbítrio. Ninguém vai te ensinar a estudar, e muito menos estudar por você – embora este fosse o cenário sonhado por muitos L. Outro dia me contaram uma história de quem fez a prova por outro, mas hoje em dia é melhor, como diz o artigo em questão, encontrar os próprios argumentos, porque só você poderá vestir essa camisa de concurseiro e batalhar pela própria matrícula.
Num mundo em que todos estão mais para “boxe do que para jogo de tênis”, definir seu próprio estilo em tudo e aprender a refletir sobre seus hábitos, convicções e expressões individuais ajuda muito a construir um perfil focado na vitória, compatível com seus objetivos. É só isso que precisamos: auto-conhecimento, foco, objeto, ação. Para o bom candidato, romper a barreira dos pré-conceitos e preconceitos amplia enormemente os horizontes e nos faz capazes de evoluir dentro de uma realidade, seja qual for ela. “Nós somos bons para discutir, mas não para argumentar. Piores ainda para mudar de ideia”.
A habilidade de argumentação pode ser desenvolvida a qualquer tempo, embora tivesse sido mais proveitoso trazer essa bagagem da escola. Paulo Grahan explica que há vários níveis de “elegância” e vigor neste processo, o que facilita o exercício da mudança, em busca de uma racionalidade que é ótima para concurso público. Ou seja, não façam como 99% dos nossos queridos amigos no Facebook, que já partem para a pancadaria. Na teoria dos concursos públicos, refutação, contra-argumento e contradição são fundamentais. O resto fica no terreno do famoso: “apelou, perdeu!”

terça-feira, 21 de abril de 2015

Como praticar o tema da redação de concurso




Atualidade é certamente um critério decisivo na escolha do tema da dissertação para o concurso. A banda examinadora tentará explorar os assuntos mais polêmicos e que tenham maior apelo na mídia e repercussão na sociedade. É o momento em que não há certo ou errado, mas que se espera do candidato o preparo para refletir a realidade: o importante é saber debater o tópico, explorar os argumentos contra e a favor, expor as ideias com propriedade, evoluir em texto que seja coeso, como um todo, e coerente, em que as ideias podem ser antagônicas, desde que conectadas e harmônicas com o debate.
Internet é sempre um tema atual e polêmico. Inclusão digital é o desafio, mas o que isso quer dizer exatamente. Com mais de 160 milhões de aparelhos navegando na rede, a pergunta do momento é: facebook é Internet? Como a Internet pode se beneficiar do poder do facebook? Ou como o Facebook pode engolir a Internet, com sua hegemonia interplanetária.
A Carta Capital reflete o debate exposto no projeto Internet.org, patrocinado pelo criador do Facebook. A discussão já está na sociedade. É bem provável que ela também esteja no seu próximo concurso. Leia a esta matéria e reflita sobre ela:
1) defina o título;
2) descreva o tema:
3) separa os tópicos: dois contra, dois a favor.
4) escreva a sua redação de apenas 30 linhas
5) prepara-se para uma ótima nota, seja na discussão com os amigos, seja na redação que pode mudara sua vida.

sexta-feira, 17 de abril de 2015

Como elaborar uma boa prova discursiva para concurso


Luiz Cláudio é um competente professor.
Luiz Cláudio é um notório especialista em Regimento Interno da Câmara e Processo Legislativo.
Luiz Cláudio é seguro nas palavras, didático no ensino e caminha para ser um expert em mundo digital.
Recentemente, Luiz Cláudio fez uma descoberta por meio da sua página, que merece ser visitada: 
 https://www.facebook.com/regimentoslegislativos?fref=ts

Vejam abaixo o que ele me contou. 

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Olá, Beth.

Fiz uma enquete no Facebook para saber o que os alunos gostariam de saber de pessoas que passaram em recentes concursos para a Câmara. Esta semana, estou realizando uma pesquisa com colegas da Casa aprovados em recentes concursos para poder oferecer aos alunos as respostas.

Fiz uma enquete e selecionei as 6 perguntas mais votadas.

Sabe o que os alunos estão mais interessados em saber?

Como elaborar uma boa prova discursiva.
 
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Como elaborar uma boa prova discursiva será tema de um dos próximos post. Vou dar dicas rápidas, porque o tema é extenso e vale um curso. Por agora, me conte, se quiser, qual a sua receita para uma boa prova discursiva. Vou dar algumas pistas:
1) escrever bem;
2) ter ótimos argumentnos;
3) defender uma ideia com unhas e dentes;
4) ter um português impecável;
5) não se desesperar na hora da prova;
6) praticar, ler, praticar.

Aguardo suas respostas. 





domingo, 12 de abril de 2015

Estrangeirismos e concurso público


Por Jairo Luis Brod

Na Língua, como na Economia, a reserva de mercado costuma empobrecer falantes e países. Na década de 1980 e no início da seguinte, a xenofobia à tecnologia estrangeira redundou em uma reserva míope de mercado, responsável pelo colossal fosso tecnológico que repercute até os dias atuais. No terreno linguístico, também houve iniciativas de aversão ao estrangeiro. O ex-deputado federal Aldo Rebello conseguiu aprovar na Câmara dos Deputados projeto de lei que veda o uso de estrangeirismos. A proposição, que foi alterada no Senado Federal, aguarda nova apreciação da Câmara. Muitos estados e municípios chegaram a aprovar leis nesse sentido. Nenhuma delas pegou. Por quê?

Porque o estrangeirismo é essencial. Cerca de 70% das palavras do português vêm do latim, e o restante, de outros idiomas. Uma eventual estratégia de defesa do idioma não deveria ser feita por decreto, mas pela melhoria do sistema educacional. Não é razoável que expressões já consolidadas em nossa cultura sejam abrasileiradas. Se assim fosse, como seriam descritos pratos orientais como sushi e yakissoba? E stand-up comedy, performance artística recente, mas cujo termo em inglês não traz dificuldade de compreensão. Como deveria ser, então, anunciado esse tipo de apresentação? "Piada contada de pé"? "Comédia em pé"?

Se os estrangeirismos contribuírem para a eficácia do ato comunicativo, parece não haver qualquer problema. O bom senso acaba prevalecendo. Quando alguém usa muitas palavras estrangeiras numa conversa, soa como algo tolo, pernóstico. É o uso que consagrará tal forma. Nas décadas de 1960 e 1970, os professores de português proibiam o uso do termo "detalhe" por ser estrangeirismo e exigiam o uso de "minúcia". Já pensou o Roberto Carlos cantando "Minúcias" e não "Detalhes"?

Repito, o bom senso deve ser o critério para o uso de palavras estrangeiras. Evite bobagens como: Vou "printar" um documento – "printar" vem do verbo inglês " to print", que quer dizer "imprimir". Assim ninguém precisa "printar" se pode "imprimir", certo?
Do mesmo modo ninguém precisa morar em um flat" se pode morar em um "apartamento".

Estrangeirismo é essencial


A esse respeito, o senador e repentista Ronaldo Cunha Lima fez uma deliciosa crítica sobre o emprego exagerado de estrangeirismos:

"A invasão de termos estrangeiros tem sido tão intensa que ninguém estranharia se eu fizesse aqui o seguinte relato do meu cotidiano: Fui ao freezer, abri uma coca diet e um queijo light, e saí cantarolando um jingle, seguido de um gospel, enquanto ligava meu disc player para ouvir uma música new age. Precisava de um relax. Meu check-up indicava stress. Dei um time e fui ler um best-seller no living do meu flat.

Desci ao playground; depois fui fazer o meu cooper. Na rua vi novos outdoors e revi velhos amigos do footing. Um deles comunicou-me a aquisição de uma novamaison, com quatro suites, todos com closet, solarium e home theater,  e  até convidou-me para o open house. Marcamos, inclusive, um happy hour. Provaríamos uns snacks. Tomaríamos um drink, um scotch, de preferência on the rocks.

O barman, muito chic, parecia um lord inglês. Perguntou-me se eu conhecia o novo point society da city: Times Square, com serviços à la carte e self-service. Voltei para casa, ou, aliás, para o flat, pensando no day after. O que fazer? Dei boa noite ao meu chauffeur que, com muito fair play, respondeu-me: good night."  Caberia aí uma sequência: "Good night, my brother. Eu lhe respondi: que intimidade é essa, meu caro partner e stakeholder. Em seguida, ele emendou: desculpe,my boss, my CEO,  my chairman, my coach e mio condottiere.

sexta-feira, 3 de abril de 2015

Quem tem medo das palavras? Apenas escreva.


Palavras não são fantasmas. Mas aterrorizam muita gente. As pessoas são cada vez mais viciadas em palavras. Tudo é respondido imediatamente. Elas precedem os pensamentos. Tudo é dito e desdito. Elas carregam julgamentos e desconstroem coisas bem mais sólidas do que elas mesmas. Palavras são como tijolos nas mãos erradas: elas podem construir. Porém, soltas assim , no canto, não fazem sentido algum. São pilhas inúteis acumulando-se de poeira. As palavras precisam ser costuradas, enfileiradas, colocadas numa ordem em que não reine uma mera combinação de rimas ou  regras gramaticais, mas que façam um sentido que seja minimamente duradouro e tenham uma finalidade precípua.
Nos últimos dias fui instada a responder a palavras soltas ao vento, discursos alheios sobre coisas que eu teria feito ou não, desprovidos de qualquer raiz. Você não vai responder a isso? Não! A resposta tem sido apenas essa. Não! O ser humano sente-se cada vez mais prisioneiro das palavras, mas escolhe a forma errada de acorrentar-se a elas. E o motivo também.



Deixe que falem, já diziam os poetas. As pessoas podem dizer o que querem. O choro é livre! Nós é que não estamos acostumados a ouvir. E entender que o outro também não sabe silenciar. Porque todos queremos falar. O que parece apenas ruidoso para uns, é ensurdecedor para o outro. Não importa o que digam de você. Isso é apenas o que o outro pensa e, normalmente, em nada mudará a sua vida. O que importa é: só você fala por você.
O problema está no fato de que existe uma diferença substancial entre a palavra dita e a palavra escrita e quem quer se preparar para um concurso público tem que começar a respeitar essa linha de corte: a palavra dita é vaga como uma brisa, é lenta e faceira como borboleta, é frágil e inválida como a tal borboleta. Aí me desculpem os mineiros e todos os outros que dizem: homem/mulher de honra tem palavra! Mas os amantes vão entender perfeitamente o que escrevo: quantos “eu te amo” esquecidos no dia seguinte... As palavras faladas são cheias de emoção e carregam a efemeridade do som. Como uma onda que nunca mais voltará, mas que gravamos em nossa mente numa folha de papel invisível que jamais será registrada em cartório.
É preciso dar sentido prático às palavras e colocá-las numa balança de feira: quanto você está disposto a pagar por isso? Para palavras soltas, sua mais-valia é quase nenhuma para quem precisa de ideias consistentes como um brinquedo articulado. Ninguém pode ser o porteiro da fala alheia: isso passa, isso não passa, assim como ninguém pode sentir a chuva na sua pele. Apenas você! Se para cada minuto que se perde tentando processar e reverter os discursos mal-cheirosos que atingem nossos sentidos, fizéssemos o exercício de ler dois parágrafos de um bom texto com um bom potencial de cair na prova discursiva, ganharíamos uma boa vantagem competitiva com relação aos adversários. Ninguém pode colocar palavras na sua boca – mas qualquer um pode encher sua cabeça de ideias tolas e roubar-lhe preciosos minutos de silêncio saudável e enriquecedor diante dos livros.
“Unwritten” e o nome da música que inspirou este post, e a caneta está apenas a sua mão, diz a bela cantora. Encare a página em branco à sua frente e tenha certeza de que ninguém pode colocar as palavras na sua boca (no one else can speak the words on your lips). É incrível como num mundo com um trilhão de páginas escritas na internet com 2,2 bilhões de mentes de alguma forma conectadas, nos condicionamos a reagir a falas cotidianas e apressadas como um clique, e uma pequena chuva vira um trovão em nossa pele. É hoje que o livro começa, se molhe em palavras não ditas, e dê um significado real, pautável e paupável, como um belo artigo, a cada parágrafo que escrever. “O resto ainda não foi escrito”, diz a singela canção. O que você está esperando?