É preciso ter
faro para identificar um bom texto. E ele não falha. Logo na primeira frase,
percebe-se o estilo, a riqueza. É pura consistência. É como amor à primeira
vista. Difícil de acontecer. Mas quando acontece, é isso! A gente sabe
que: "é isso"! Você pode se apaixonar por um texto por causa das
ideias. Ele te devolve a sua infância. Ele te faz lembrar de biscoitos caseiros
quentinhos na casa da vovó. Ou ele mexe com os seus ideias. Te ensina algo. Ou
talvez ele seja um flecha na sua emoção: mexe com os seus sentidos, te faz rir
ou chorar. Você também pode apaixonar-se por um texto pelas suas palavras. Sua
forma curvilínea, uma introdução mais "carnuda", um gênero mais
natural, sem muita maquiagem.
Um texto pode
ser um diálogo, uma conversa que vai empolgado aos poucos até virar um
"pingue-pongue" eletrizante, como no primeiro encontro. Os dois
querem falar ao mesmo tempo e mostrar-se por dentro e por fora.
Este texto que trago agora é um bom exercício para concurso público - “Vamos precisar de um balde maior”, sobre a crise hídrica em São Paulo.
Eu poderia simplesmente
perguntar: por quê?
Vamos às
questões:
quais as
técnicas principais que ele usa?
Que tipo de
linguagem é adotado?
Quais as
figuras de linguagem utilizadas?
Como ele
constrói os argumentos e que tipo de encadeamento/raciocínio lógico ele vai
criando para nos dar a impressão de que estamos numa montanha-russa? Como ele
inicia os parágrafos como se apresentasse cada novo ato de um grande
espetáculo?
Quantas, e
quais as mais belas metáforas usadas? O que dizer do argumento? Existe um contra-argumento?
Existe uma conclusão? Qual é O argumento, ou seja, o que o autor acha de verdade?
Esse texto
mostra como ser generalista e em seguida navegar para o particular, para a
concretude do específico e assim mergulhar no irrefutável. Ser criativo sem ser
lunático. Ser assertivo sem ser pedante. Ser dramático sem apelar. Ser profundo…
e coloquial. Ao invés de "a crise é enorme", poder dizer com
elegância: "a palavra 'crise me parece muito pequena diante do que já está
desenhado". Os filhos da barbárie, de uma catarse coletiva, dos sem água e
sem resposta para o cenário árido que emerge de caixas d'agua vazias. Qual a
minha surpresa quando cheguei ao fim do texto, tendo sido tentada desde o início
a escrever sobre ele, e encontrei o nome de Eliane Brum, na minha opinião, uma
das melhores escritoras do nosso tempo. Eis o meu desafio: dissecar o artigo de
Eliane Brum, fazer uma análise profilática. É o seu dever de casa. Divirta-se.
Poste no blog ou guarde para você. Não importa! Vale o exercício. Nos próximos
posts eu farei os meus comentários sobre este texto. Comparar é aprender!!!!
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