quinta-feira, 25 de setembro de 2014

Amores literários

Na primeira vez que tentei ler Zygmunt Bauman, desisti. Era consistente demais. No livro "Amores Líquidos", ele explica de inúmeras formas inteligentes e maravilhosas o que é o amor, ou melhor, o que é a sensação de amar... porque tudo não passa de sensações, estímulos mentais que criamos dentro de convicções voláteis. Diz assim Bauman: "é exatamente isso que faz o amor: destaca um outro de 'todo mundo', e por meio desse ato remodela 'um' outro transformando-o num 'alguém bem definido'"... e por aí vai... Amar é "esperar que alguma coisa aconteça", diz o filósofo. "Concordar com uma vida vivida, da concepção ao desaparecimento, no único local reservado aos seres humanos: aquela vaga extensão entre a finitude de seus feitos e a infinidade de seus objetivos e conseqüências". Incrível como as palavras são maduras e soberanas na arte de explicar o que é inexplicável: o amor. Excitante como se pode usar um texto para dizer algo mais do que repetido, ainda guardando uma nova significação e uma grande relevância. "O que se propunha/ansiava/esperava ser um abrigo (talvez o abrigo) contra a fragilidade revela-se sempre como a sua estufa..." escreve Bauman. Para mim um texto tem sempre esse ar imprevisível, uma dissimulação do ser e do não ser, essa dualidade intrínseca à natureza humana. O que parece ser nunca é e que é, logo, logo logo, vai deixar de ser. E vamos caminhando deixando marcas indeléveis do desapontamento com a vida e do deslumbramento com as palavras que brotam de nossas tristezas e infelicidades.

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